fui visitar o museu da língua portuguesa, instalado no edifício da estação da luz, pra ver a exposição sobre o fernando pessoa. as impressões que eu tive quando fui da primeira vez (ver a exposição sobre a clarice lispector) se reforçaram.
daquela vez não permitiam fotografar nada, por isso acho que nem me animei a postar sobre. o que eu acho que é uma idiotice, pois o povo que vai visitar quer fotografar por que gostou do negócio. agora já permitem, só que sem flash (e tem motivo pra isso, como veremos), e minha teoria se confirmou: muita gente posando pra se fotografar no meio da exposição. é um meio de “consumir” as instalações.
logo na entrada tem uma escultura muito interessante (autoria de rafic farah), uma árvore de palavras. só acho que ela fica muito espremida entre os dois elevadores, mas a verticalidade dela tem a ver com a prumada do acesso.
logo de cara a gente é convidado a assistir um filminho, no terceiro andar. dois, na verdade.
o primeiro é um filme comum (exceto pelo formato da tela, que é extra-wide, usava três projetores, dá pra ver de leve a marca de sobreposição na foto). fala sobre a evolução da língua, etc., é até interessante. mas a produção visual é extremamente exagerada (pra não dizer brega).
a segunda sessão é bem mais interessante, vários poemas recitados por pessoas variadas (atores, cantores, poetas, eventualmente os próprios autores) acompanhado de animações relacionadas, projetadas no teto (por mais quatro aparelhos data-show), de qualidade gráfica muito superior ao video anterior.
a interferência da estrutura de madeira da cobertura é um dos únicos indícios de que o museu se encontra dentro de uma estação de trem centenária.
nessa hora entendi por que proibem o uso de flash. as animações tem sempre fundo preto, o que exige escuridão total (nota-se a foto bastante granulada). mesmo a luz do autofoco da camera, aquela laranja, chega a incomodar (tive que desligar ela).
depois disso partimos para o primeiro andar, a exposição do fernando pessoa.
os dois vídeos assistidos são “padrão”, fazem parte das exposições permanentes (no segundo andar, não visitamos dessa vez). senti falta de um vídeo introduzindo o poeta, sua obra, etc. de repente a gente dá de cara com mil heterônimos e uma cenografia extasiante, achei um pouco traumático.
como é característico do museu, a exposição esbalda tecnologia, nem sempre com sucesso.
logo na entrada há umas cabines para os principais heterônimos, com citações projetadas. no chão há um circulo marcado, onde a pessoa se posiciona pra ler e, pela presença, a projeção avança automaticamente para a próxima citação. as cabines estavam totalmente desabitadas, e o mecanismo de avançar a projeção não funcionava tão bem, fazendo-nos desistir de ler.
pra contrabalançar, um recurso tecnológico que me pareceu funcionar bem era um fac-símile de um caderno projetado numa mesa, cujas páginas são viradas ao passar a mão sobre ele. simples e muito mais intuitivo.
havia também uma espécie de labirinto com citações nas paredes (nem fotografei, acho que acabei me focando na parte tecnológica). Algumas coisas achei gratuitas (ou não entendi mesmo), como letras prateadas ou coladas em tabuinhas, mas haviam outras bem interessantes, como o uso de espelhos pra ler poemas escritos invertidos na parede, e furos nas paredes que separavam para espiar outro ambiente. tudo mais simples (e econômico), e não menos funcional.
enfim, meu parecer final (ainda) é: exposição bem montada, com recursos para investir, mas exagerando na parte tecnológica, o que acaba tirando um pouco o foco do conteúdo.
me lembro, por exemplo, que entre tantas pirotecnias na exposição da clarice, o que mais me tocou foi um simples vídeo com depoimentos dela.
ps.: se alguém estiver a passeio pro lá, recomendo visitar as pinacotecas, principalmente o memorial da resistência.